Voyager segue rumo a região misteriosa no fim do Sistema Solar

Após ultrapassar Netuno e escapar da zona de influência do Sol, a sonda Voyager 1 chegará em 300 anos a uma região hipotética do Sistema Solar ainda pouco estudada pelos astrônomos conhecida como Nuvem de Oort. Serão necessários 30 mil anos para a sonda atravessá-la e alcançar o espaço interestelar profundo, onde estão outras estrelas e planetas.

A missão Voyager foi lançada em 1977 com o objetivo de expandir os conhecimentos da humanidade sobre Júpiter e Saturno, e depois seguir viagem rumo aos confins do Sistema Solar. Nessa jornada, ela coletou dados sobre os planetas gasosos, enviou imagens inéditas de Urano e Netuno e conquistou o feito de ser a primeira nave a atravessar a heliosfera, a bolha protetora do Sol contra ventos solares de outras estrelas.

Imagem de Saturno e seus anéis tirada pela Voyager 1 em novembro de 1980. (Imagem: NASA/JPL-Caltech)

Voyager será a primeira sonda a estar a um dia-luz da Terra

Hoje, a Voyager 1 se encontra a 167 unidades astronômicas (distância entre nosso planeta e o Sol) da Terra, estando direcionada para a constelação de Ophiuchus. Seu afastamento constante a torna o objeto feito por seres humanos mais distante já lançado.

Uma mensagem enviada do centro de comando terrestre leva 23 horas, 12 minutos e 18 segundos para chegar à sonda. Se ela mantiver sua velocidade atual de 61 mil km/h, em cerca de um ano a missão alcançará mais um recorde astronômico: será pioneira em ter uma nave a um dia-luz da Terra.

Em sua estrutura, está anexado o Disco de Ouro: um registro contendo imagens e sons da Terra, ilustrações da estrutura do DNA, definições matemáticas e informações sobre a humanidade. Caso uma civilização extraterrestre a encontre nos próximos milhões de anos, esse material servirá como uma memória final dos habitantes terrestres e seu planeta.

Disco de Ouro da Voyager. No material, há instruções detalhadas de como “tocar” o disco para reproduzir os sons e as imagens da Terra (Imagem: NASA)

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Jornada da Voyager às profundezas do espaço está apenas começando

Segundo a NASA, a Voyager está ficando sem energia e a missão está próxima do fim. Mesmo assim, a jornada da sonda está apenas no começo.

Em três séculos, ela atingirá a Nuvem de Oort, uma região esférica de objetos cósmicos nos limites da influência gravitacional do Sol. A hipótese da existência desse local foi concebida em 1950 pelo astrônomo alemão Jan Oort para explicar os cometas de longo período, rochas com órbitas alongadas que parecem surgir do nada.

O pesquisador propôs que esses cometas não se formavam em regiões próximas, mas sim em uma zona fria e distante, que nomeou de Nuvem de Oort. Os objetos dessa região são majoritariamente formados por gelo de água, metano, amônia e outros compostos voláteis. 

Ilustração mostra o Sistema Solar rodeado pelo cinturão de Kuiper e, na camada mais externa do diagrama, a nuvem de Oort. (Imagem: Maliflower73 (fundo) / Naeblys (nuvem de Oort) / istockPhoto. Edição: Olhar Digital)

A hipótese mais aceita atualmente é que essa área do cosmos foi formada por detritos e planetesimais — pequenos corpos rochosos considerados os “blocos de construção” dos planetas — lançados para a periferia do Sistema Solar durante o início da formação dos astros gigantes.

Conforme estimativas da NASA, a borda interna da nuvem começa a cerca de mil UA do Sol e termina entre 10 a 100 mil UA do Sol, embora os limites exatos ainda sejam desconhecidos. Se o início real for o mesmo calculado pelos astrônomos, a Voyager poderá atingi-lo em três séculos, e permanecerá lá por mais de 30 mil anos.

A espaçonave Voyager 1 é o objeto feito pela humanidade que está mais distante da Terra. (Imagem: Jesper G / Shutterstock)

Depois da Nuvem de Oort, Voyager seguirá vagando por bilhões de anos

Caso a sonda sobreviva a essa extensa viagem, ela seguirá ilesa por bilhões de anos em direção às profundezas do espaço. Pesquisadores apresentaram, em um estudo de 2020, as chances do Disco de Ouro sobreviver a essa longa jornada. 

Segundo a pesquisa, após viajar 5 bilhões de anos em uma trajetória sem grandes choques, a Voyager 1 tem cerca de 99% de chance de sofrer danos e ter o lado externo do disco deteriorado até se tornar indecifrável. A face voltada para a nave sobreviveria até a fusão da Via Láctea com a galáxia vizinha Andrômeda, dentro de 4 a 5 bilhões de anos.

Depois do choque das duas galáxias, os efeitos desse evento cósmico poderiam lançar a sonda para o meio intergaláctico, um espaço ainda mais silencioso e estável. Nesse ambiente, as taxas de degradação da nave diminuiriam, permitindo que a Voyager continue sua jornada por trilhões de anos, vagando eternamente pelo cosmos, ao infinito e além.

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