Uma pesquisa recém-publicada na revista Nature revela que o ouro pode resistir a temperaturas muito mais altas do que se imaginava. Segundo o estudo, o metal continua sólido mesmo após ser superaquecido além do limite teórico conhecido.
A equipe responsável pelo experimento usou pulsos de laser supercurtos para aquecer pequenas amostras de ouro em altĂssima velocidade. O objetivo era levar o material atĂ© a chamada “catástrofe de entropia”, um ponto teĂłrico em que a estrutura sĂłlida nĂŁo aguentaria mais e se transformaria em lĂquido.
No entanto, o ouro resistiu alĂ©m do esperado. A estrutura do metal permaneceu intacta por um curto perĂodo, mesmo em temperaturas altĂssimas. Isso foi possĂvel porque o aquecimento ocorreu rápido demais para os átomos se reorganizarem em estado lĂquido.
Velocidade de superaquecimento mantém ouro em estado sólido
Esse comportamento é conhecido como superaquecimento. O material aquece tão rápido que não dá tempo para a fusão ocorrer. Mesmo ultrapassando o ponto de fusão tradicional, ele segue sólido por alguns trilionésimos de segundo, até que finalmente cede.
Os pesquisadores atingiram 19 mil Kelvin (cerca de 18.700°C) e ainda assim o ouro não derreteu imediatamente, permanecendo sólido por mais de dois picossegundos, o que, apesar de extremamente breve, é suficiente para desafiar as previsões anteriores. Modelos antigos previam que o superaquecimento poderia chegar até três vezes o ponto de fusão. Mas neste experimento o ouro foi 14 vezes além desse limite, obrigando os cientistas a repensarem o que se sabia sobre a estabilidade de materiais sólidos em condições extremas.
Eles conseguiram medir a energia absorvida com precisĂŁo usando raios X refletidos. Com essa tĂ©cnica, foi possĂvel acompanhar em detalhes como o calor era absorvido sem que a estrutura atĂ´mica se desfizesse imediatamente.

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Resultados não violam leis da termodinâmica
Em um comunicado, Tom White, professor associado de fĂsica na Universidade de Nevada e um dos autores do estudo, afirma que esses resultados nĂŁo violam nenhuma lei da termodinâmica. Eles apenas indicam que, quando o processo Ă© rápido o suficiente, a fĂsica clássica pode nĂŁo acompanhar a velocidade da mudança, e os sĂłlidos se mantĂŞm estáveis por mais tempo.Â
Agora, os pesquisadores pretendem testar outros materiais alĂ©m do ouro. Se outros sĂłlidos tambĂ©m resistirem assim, será preciso atualizar gráficos e limites que mostram quando um material deixa de ser sĂłlido. “Se nosso primeiro experimento usando essa tĂ©cnica levou a um grande desafio Ă ciĂŞncia estabelecida, mal posso esperar para ver que outras descobertas nos aguardam”, diz Bob Nagler, cientista da equipe do LaboratĂłrio Nacional de Aceleradores (SLAC) do Departamento de Energia dos EUA.Â
A descoberta pode ajudar a entender fenômenos como colisões de asteroides ou falhas em reatores nucleares, que envolvem aquecimentos intensos e instantâneos. Esse novo olhar sobre o superaquecimento pode ter impacto direto em áreas da ciência e da engenharia.
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